Nos últimos dias, tenho pensando muito em Vovô Sinhô. Sua imagem e muitas lembranças têm me acompanhado, entram em meus sonhos, adormecem e acordam comigo. Ainda assim, é difícil encontrar palavras que traduzam o que ele representou na vida de minha família e isso deixou o texto girando em meus pensamentos sem que eu conseguisse coragem para começar.
Meu avô Sinhô nasceu Guilhermino. O que levou ao apelido é pesquisa que ainda não fiz. Não perguntei a ele e agora quem poderá me responder com segurança? Apelidos muitas vezes ninguém explica, só vão acompanhando a pessoa pela vida.
Enfim, o que importa é que é doce, ao mesmo tempo em que sugere admiração. E assim era meu avô.
Meu avô era descendente de portugueses, nasceu em Lambari, em Minas Gerais. Isso complica ainda mais minhas origens, misturando espanhóis, italianos, portugueses e mineiros. Acho graça. Acho também bastante confuso.
Casou-se com minha avó Marianina quando já morava em Taiaçu - cidade onde todos nós nascemos. E ali viu crescer suas quatro filhas. Morou, portanto, a maior parte de sua vida cercado de mulheres: minha avó, a cunhada - que sempre morou com eles e as filhas. E saiu-se muito bem nessa empreitada. Em todos os momentos, sua família estava em primeiro lugar e protegia cada um de nós em qualquer situação..
De fala mansa e extremamente educado, impunha suas idéias usando pouquíssimas palavras. Bastava sua presença, seu olhar.
E com esse perfil, envolvia-se na política da cidade e vivia cercado de amigos.
Homem bonito, magro, alto para a época. Elegante mesmo. Até o fim da vida usou terno e chapéu.
Meu avô era o modelo de companheiro por quem hoje as mulheres suspiram, e procuram sem encontrar. Amou minha avó, a ela foi fiel e dela cuidou até o fim. Despediu-se dela com um beijo nos lábios e os olhos cheios de lágrimas. Sem desespero, num gesto silencioso que carregou o ambiente de amor e de emoção.
Nunca me esqueci disso. E desejei ter para mim um companheiro assim.
Meu avô era funcionário da Prefeitura de Taiaçu, mas era também marceneiro. Naquela época, os moços “aprendiam um ofício” para lhes assegurar estabilidade em momentos incertos. E ele trabalhava a madeira com perfeição.
Com seu jeito quieto e carinhoso, tinha sempre um presente para os netos, feito com suas próprias mãos. Em especial, um boneco preso a hastes de madeira, que fazia piruetas. E caleidoscópios!
Quem teve um avô que fazia caleidoscópios? Eu tive. E passava muito tempo girando e admirando as imagens que se formavam com o movimento dos vidrinhos coloridos que moravam lá dentro.
Onde foram parar os caleidoscópios da minha infãncia?
Moram agora apenas na minha lembrança, mas ainda são capazes de me arrancar suspiros e me fazer sentir amada e única.
Saudade de você, vovô.