Quando a gente resolve remexer nas lembranças de uma vida inteira, os assuntos vão pipocando, se mostrando. Como se estivessem todos guardados em uma caixinha e de repente saltassem desesperados numa disputa com todos os outros que dividem espaço na memória.
Janeiro, mês de férias ... então, vamos lá!
Quando eu era criança, as férias escolares eram muito mais longas do que são hoje. E isso era muito bom.
Cada um no seu tempo, mas nessa questão tive mais sorte que as crianças de hoje em dia.
O fato é que na minha época era muito melhor, e o que me fez feliz não pode me fazer sentir velha, então falo de boca cheia: na MINHA época eram três meses inteirinhos de férias no fim do ano. Parávamos no início de dezembro para só retomar as aulas em março do ano seguinte.
Alguém dirá que minhas férias continuam iguais, mas enfim ...
Uniforme, pasta, cadernos, livros, tudo rapidamente organizado para descansar longe do campo da visão. E junto iam os horários, os deveres de casa, a matemática que me perseguia, as vozes dos professores, o hino nacional no pátio, o sinal, tudo.
Três meses inteirinhos de liberdade, pés descalços, cara suja de terra.
Maravilhaaaaa!
Minha mãe tratava logo de ajeitar as coisas e nos despachar para longe. Afinal, ela também merecia férias de nós.
Assim, eram dias de férias para todos os gostos: com meus amigos, com meus avós, com meus primos. E meu irmão quase sempre junto, claro.
De todas as lembranças, as que mais têm me visitado ultimamente são as dos dias na praia com meus padrinhos - Maura e Rui, e meus primos – Lúcia, Junior e Jacques. Sol, brincadeiras, amigos, praia, banhos de mar, tudo de bom que a vida pode oferecer para uma criança em férias.
Lembro-me claramente da casa, da porta pesada de vidro na entrada, dos beliches, da mesa da sala. Lembro do prédio que ficava no caminho da padaria, da amiga da minha prima na casa em frente, dos amigos que ficavam mais no fim da rua no caminho para a rodovia. Fecho os olhos e consigo sentir o sabor das refeições preparadas pela Maura e que iam cuidadosamente para a mesa alimentar nossos corpinhos exaustos das brincadeiras do dia.
A praia ficava perto, mas muitas vezes íamos escoltados. E seguíamos em grupo já nos divertindo pelo caminho. Tio Rui era pernambucano e trazia das raízes costumes bastante peculiares, como nos besuntar de azeite de dendê, que não protegia em nada nossa pele do sol, mas deixava ao fim das férias um dourado único para ser exibido na volta às aulas.
Na verdade, ninguém se protegia do sol naqueles tempos.
Naquela praia me diverti muito, aprendi a boiar, furar as ondas, pegar jacaré, brincar embaixo d’água. Fui feliz.
Ainda assim, sentia saudade de casa, de meus pais, meus irmãos. Nada que uma brincadeira nova não fizesse superar. E o tempo corria enchendo os dias de risos, calor, alegria.
Nossa família sabia como fortalecer os vínculos entre todos nós, conscientes da importância dessa referência e dessa força para o resto da vida.
Das férias da minha infância guardo boas lembranças e a felicidade da convivência com meus primos, laços que nos unem fortemente até hoje e para sempre.
Bons tempos aqueles. Muito bons mesmo.