terça-feira, 20 de setembro de 2011

O cravo brigou com a rosa

Para alegrar, fazer sorrir


O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada

O cravo ficou doente
E a rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
E a rosa pôs-se a chorar

A rosa fez serenata
O cravo foi espiar
E as flores fizeram festa
Porque eles vão se casar


domingo, 18 de setembro de 2011

O Caminhar da Minha Fé

Quem se encarregou primeiramente de minha orientação religiosa foi minha mãe, católica fervorosa, Filha de Maria quando solteira. Com ela aprendi a dizer minhas orações diárias, a acompanhar as missas; dela ouvi histórias sobre a vida de Jesus, dos apóstolos e dos santos. E quando meu olhar de criança era de dúvida, ela dizia: isso é a fé. Aprendi cedo, então, que quando se tem fé não se tem dúvida nem medo. Assim segui pela vida.

Desde muito pequena e até minha adolescência, tive minha religiosidade abraçada pela igreja do bairro onde morava. Ali assistia as missas de domingo levada pelas mãos de minha mãe e fiz minha Primeira Comunhão. Era uma igreja muito bonita. De construção antiga e misteriosa, tinha os bancos de madeira escura, vários altares laterais, vitrais coloridos. Como a maioria das construções católicas, tinha forma de cruz, abrindo um braço de cada lado do altar e formando espaços mais reservados de oração.

Até que eu descobrisse ali um refúgio para minhas angústias (o que só aconteceu anos mais tarde), aquela meia-luz constante e os sermões do Padre Amaral me assustavam, exigindo de mim uma disciplina difícil.

Padre Amaral era o pároco da igreja e ali morava com sua mãe. Era uma figura de pouco sorriso e muito rigoroso. Resistiu à liberdade do uso do terno em lugar da batina, até quando pôde. Rendeu-se aos novos tempos, finalmente, e descansou as vestes negras sem no entanto deixar de ser sisudo e ranzinza.

Quando precisava ser substituído, vinha Padre Carlos. Moderno, jovem e suave. Chegava de fusca, de terno, sem pressa. Sua fala era sempre doce, serena, boa de ouvir. E naqueles dias a igreja era um lugar mais iluminado e agradável de estar.

Cresci assistindo um sem fim de orações, que completavam terços e rosários nas contas presas aos dedos de minha mãe, de Vovó Marianina e Tia Chiquinha. Angustiantes vias sacras, intermináveis e confusas para a criança que eu era.

Na casa vizinha à nossa moravam Dona Eurídice e Seu Palmiro, pais de João Luiz, que era amigo de meu irmão. Eles eram espíritas, amigos e queridos por nós. Em algumas noites, as portas e janelas da casa ficavam trancadas e lá aconteciam reuniões freqüentadas por pessoas da vizinhança. Nessas noites, eu nem olhava naquela direção, com medo desse universo que era ainda mais assustador para mim. Dona Eurídice era médium poderosa e respeitada.

Minha mãe não aprovava aquelas reuniões, mas respeitava a amiga e não fazia comentários.

Meu pai descobrira-se médium ainda jovem e passou a freqüentar um centro espírita. Da mesma forma, sobre isso não se falava em lá casa.

Quando cheguei à adolescência, decidi que não precisava mais do compromisso da missa semanal. Estava começando a questionar tudo aquilo. Senti que Deus estaria comigo em qualquer lugar, então ouviria sempre minhas orações e Dele eu não precisava ter medo. Passei então a ser uma dessas pessoas que se diz católica não praticante. Estranho, mas é assim que se explica.

Anos se passaram e o perfil de minha família foi mudando. Meu pai havia se tornado um médium de muita força e clarividência. Vários acontecimentos foram nos revelando e comprovando isso.  Ele era, no entanto, pessoa simples e por vezes recorria ao meu irmão para esclarecer alguma coisa que vira ou ouvira. Meu irmão tornara-se também espírita.

A curiosidade sobre o assunto foi aos poucos tomando conta de nossas conversas e fomos nos voltando para a espiritualidade, estudando e praticando. Claudia, Glória e eu.

Meu pai manifestou muitas vezes o desejo de que eu desenvolvesse minha mediunidade e trabalhasse com ele. Dizia que eu tinha uma luz muito clara e que seria uma boa médium. Essa bondade que ele via em mim me assustava um pouco, porque se misturava com a admiração que ele tinha por mim e não me dava a real dimensão de quem eu era. Assim, eu resistia.

Um ano antes de meu pai partir, comecei a trabalhar em uma casa de cura espiritual. Ele ficou muito feliz e eu também. Ali reencontrei meu caminho e consegui forças para entender e superar o que viria depois.

Sou hoje uma pessoa mais plena, mas ainda engatinho nesse universo. O tamanho da minha fé tem fundamento nos ensinamentos de minha mãe, nas conversas com meus irmãos, no incentivo de meu pai, no carinho das pessoas que me acolheram e me orientam na casa espiritual que freqüento.

Ontem, fui ver o Dalai Lama e guardei uma frase: “É preciso ter calor no coração”.

Simples assim. E eu tenho fé nisso também.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Paina da Paineira

Vivi minha infância à sombra de uma paineira. Não tinha suas raízes plantadas em nosso terreno, mas era nossa, de toda a vizinhança. Ficava na esquina da rua ao lado, dentro do terreno do velho rabugento, dono da amoreira. Aquela, que era nossa amoreira também.

Nossa paineira crescera forte e na minha infância erguia-se majestosa em direção ao azul do céu. Estava ali há um tempo que não se contava, mas era muito. E ao longo de sua trajetória foi testemunha das vidas que se entrelaçaram por aquelas casas; renovou suas folhas como coadjuvante silenciosa das brincadeiras da criançada; desviou seus galhos dos balões e pipas que por ali subiram; e manteve-se assim, silenciosa e protetora.

Quando criança, olhava para cima e era a árvore mais alta da minha vida!

Tinha lá suas obrigações: registrava as estações do ano, com precisão. Trocava suas folhas no outono, florescia na primavera, depois dava frutos lindos que se abriam em bolas de paina de encher os olhos.

Nosso quintal era também marcado pelas fases da paineira. Enchia-se de folhas, depois de flores. E, quando chegava o tempo da paina, o vento se encarregava de também levá-la ao alcance de nossas mãos.

Aquele renovar era lindo de ver, mas fazia minha mãe recolher folhas, flores e paina o ano inteiro, num varrer de quintal sem fim.

O fruto da paineira me lembrava um abacate e isso era um pouco confuso para minha imaginação de criança. Com o tempo, a casca tornava-se seca e abria-se expondo o algodão que vestia a árvore de branco. Assim, ela mudava também de cor ao longo do ano: verde, quando só folhas; rosa quando florida; e branca, por fim.

As bolas de paina voavam pelo nosso quintal e nossa alegria era correr atrás delas. Dentro do algodão escondia-se uma sementinha preta, macia, saboreada por nós como uma iguaria rara.

Muitas vezes fiquei deitada no chão do quintal com o olhar perdido entre aqueles galhos, pensando em nada. Sempre fui assim, nostálgica, suspirando meus sonhos.

Ah, quem me dera agora um momento assim ... um fazer nada, esperando o manifestar das estações.

Não sei dizer se a paineira ainda está lá. Espero que sim.

Não sei quantos prestaram atenção nela e quantas vidas ela tocou. Espero que todas.

Sei que ela é uma lembrança boa, doce e colorida, que tornou minha infância melhor de viver.