sábado, 22 de outubro de 2011

Cheiro de saudade

Esses dias andei falando sobre saudade. E ficou em mim um suspiro.

Nem sempre é saudade, mas é a palavra que primeiro salta quando meus pensamentos me suspendem no ar. Porque não é possível sentir saudade do que não se viveu, mas é assim que parece muitas vezes. Talvez seja saudade de sonhos que sonhei, que de tanto sonhar confundiram-se com minhas histórias.

Sinto saudade da minha infância, das minhas amigas Sandrinha e Alice. Sinto falta dos pés descalços, dos amigos, de meus primos, do cheiro de fogueira nas festas de junho, de brinquedo novo. Sinto falta das possibilidades todas que estavam lá na frente. 

Na minha adolescência, costumava caminhar com minha amiga Roseli. E falávamos da vida, de paixões, de angústias, de felicidade. Falávamos de como seríamos. Saíamos em grupo e com nossos namorados que eram também amigos. Sinto saudade daquelas pessoas todas, que me faziam sentir em um mundo particular.

Lembro dos amigos de escola. Sinto falta do nosso grupinho, das confidências, dos planos. Das meninas: Cidinha, Denise, Nádia, Nina, Silvana, Marcinha, Rosangela, Selma. Dos meninos: Walmir, Israel, Gilmar, Herculano, Marcelo, Nilson.

Saudade dos amigos de meu irmão, que eram também meus. Vanderley, Edson, Edgar, Fábio, Farisco, Ademir, João Luiz, Flávio.

Saudade dos tempos de faculdade. Da névoa que cobria o prédio nas manhãs de inverno. Da torrada completa na cantina. Saudade das aulas práticas, de correr na pista, de treinar na piscina, das aulas da Professora Maria junto com os meninos. Saudade de dançar. Saudade do início da minha amizade com Valerie, Jô, Jussara, Ciça.

Lembrança do cheiro de novo do meu apartamento. Vida nova, novos sonhos.

Saudade de brincar de tubarão com Mariana na Ilha Bela. Saudade da primeira vez que vi cada um dos meus sobrinhos e dos almoços de domingo na casa de meus pais, família toda reunida.


Saudade dos amigos que ganhei para sempre: Rose e Alfredo. Do afilhado lindo que me deram e que nos tornou uma família.

Saudade do meu cachorro, Sherlock.

Saudade de quando comecei a trabalhar na Reitoria. A Universidade era a casa de cada um de nós e nos recebia sempre como alguém especial. Acolhedora, planejando ainda ficar madura.  Ali cabiam pessoas que se queriam bem, que festejavam, que gostavam de estar juntas. Amizades ainda hoje alimentadas para que nunca se acabem.

Saudade de todas as viagens que fiz, de gargalhar com Liliana, de sempre ter sobre o que falar. Saudade das areias que pisei, dos perfumes novos.

Saudade do Bamba, de acampar, de comer salmão no Chile e da neve na Austria. Saudade de conversar horas na cozinha, de morrer de rir, de filosofar.

Saudade da Bambina filhote, dos arranhões, das brincadeiras, do olhar.

Saudade é felicidade e tristeza, mas é sempre boa, é vida.

Saudade de meu pai. Saudade da menina que morou em mim.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Alecrim Dourado

Porque hoje é dia de encher o céu de música ...

Alecrim, alecrim dourado
Que nasceu no campo sem ser semeado

Foi meu amor
Quem me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim

Alecrim, alecrim aos feixes
Meu amor não deixe de gostar de mim

Foi meu amor
Quem me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim

Alecrim, alecrim aos molhos
Por amor de ti
Choram os meus olhos

Foi meu amor
Quem me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Felizes Aniversários

Com meus pais aprendi que dia de aniversário é coisa para ser comemorada.  Dia importante, especial, com direito a carinhos e homenagens. E sempre foi assim lá em casa.

Nem sempre houve festa, mas sempre teve bolo, parabéns e abraços. Sempre!

Cresci acreditando que era essa a regra para todas as famílias do mundo. Pessoas reunidas, bolo e velinhas – ainda que apenas isso. Com o tempo fui percebendo que para alguns bastava a lembrança, se possível um abraço. Dispensáveis o “parabéns a você” e demais acompanhamentos.

Passei, então, a valorizar esses momentos em família e me emocionar com eles.

Lembro de um dia chegar em casa depois da escola e encontrar Vovó Marianina às voltas com os preparativos de muitas delícias para mim. Era meu aniversário e sobre a mesa havia uma infinidade de gostosuras: empadinhas a caminho do forno; cheiros que brotavam das panelas; bolo, docinhos.

Eu havia chegado com uma amiga, Magda, e ela ficou no portão me esperando voltar. E esperou até cansar, e desistiu de esperar. Surpresa com a casa cheia de gente e de movimento; tão feliz, inebriada com os aromas e o carinho, me esqueci de tudo. Quando me dei conta, corri para a casa dela e pedi desculpas. Voltamos juntas para apreciar tudo aquilo, felizes e ainda amigas.

Muitos outros aniversários foram bem mais simples, mas também valiosos.

Como o dia que cheguei em casa depois de um domingo de trabalho, tarde da noite e muito cansada. Encontrei um bolo de chocolate deixado por minha irmã Glória na portaria do prédio. Aquele bolo veio carregado de todos os abraços e beijos que eu não havia recebido durante aquele dia, me acarinhou e me fez muito feliz. Nunca me esqueci dele e muito menos do gesto.

Nesses anos que já vivi, em todos assoprei velinhas. Organizei festas para pessoas especiais. Fui surpreendida e surpreendi.

Guardo boas lembranças.

Hoje meu pai faria 87 anos e esse texto escrevo em sua homenagem. Depois da missa que rezamos por ele nos reunimos para o bolo, que não poderia faltar.

Lá onde ele está agora, certamente abriu um sorriso e ficou feliz.