sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Reencontro

Lá em cima, no céu que imagino, alguém hoje espera um pensamento meu. Voa, então, o meu amor para lá. Sai do meu peito e se enlaça em ternura e saudade.

Posso ver nossas mãos, que finalmente voltam a se tocar; olhos que se perdem nos outros olhos; o abraço tão esperado. 

As palavras não vieram. Só esse olhar profundo que procura os vestígios da outra alma.

Fecho os olhos, respiro e voo.  Transformo minha realidade em festa. Trago as lembranças dos dias como o de hoje que foram morar no passado. E suspiro.

Renasce o sentimento guardado, a alegria. Não há mais saudade, porque estamos juntos de novo.

Penso: como a rotina se dava em dias como esse? a sua comida preferida estaria no centro da mesa: nhoque com frango. Não gosto não, mas são suas as honras do dia, não minhas. Hoje o meu presente é o encontro. O seu é também o prato que perfuma o ambiente. 

A casa agora tem um cheiro doce, aroma de bolo saindo do forno. Seus olhos marotos acompanham os movimentos secretos da surpresa com o coração acelerado da criança que sempre morou em seu peito.

O dia tem dono. Nasceu ensolarado e já pertence a quem o esperou. Dia bonito, de sol e de garoa molhando os campos.

Seu sorriso está mais largo e não sai do rosto. Assim mesmo, como sempre foi e é lembrado.

Fecho os olhos, suspiro de novo trazendo a imagem mais para perto. Fica em mim um sorriso também. Tenho tanto o que contar, tantas coisas que aconteceram e que preciso contar ...

Foi longa a espera por esse encontro, e agora percebo que nada mais precisa ser dito. Apenas quero ficar assim, olhando em seus olhos.

Guarde os meus segredos e me guarde no coração. Gratidão pela presença sempre sentida, por cuidar assim de mim.

Meu destino agora se mostra diante de mim,  feito de luz e de um grande amor.

Certos sentimentos não se pode descrever. Então, talvez eu deva encerrar por aqui.

Flutuo, quase perdendo os sentidos. Não posso ficar, mas também não consigo ir embora.

Fique com o meu amor e com essa emoção que me aquece. Qualquer dia eu volto para vê-lo mais um pouco.

Feliz aniversário, meu pai.

domingo, 22 de julho de 2012

Encantada


Às vezes fico vazia, meus sentimentos se esgotam, sejam eles bons ou ruins. A intensidade da vida acaba por minar nossa energia e nos esvazia. Somos todos assim. E sendo assim, que bom não estar enlouquecendo - pelo menos não sozinha.
Andei pensando que a vida nos dá de presente alguns intervalos, a fim de nos aliviar de toda a emoção que envolve a busca pelo entendimento de nossa existência aqui ou mesmo a busca pela felicidade. O tempo vai modificando a forma como vemos os acontecimentos e também a forma como nos comportamos diante do que vivemos. 
Olhando a vida no fundo dos olhos, ela é bem simples ... como essa conclusão boba à qual acabei de chegar, que me explica e me basta.
Tão simples é a vida, que ficamos buscando explicações mais profundas para justificar a demora em entender o que está diante de nós.  
Sou uma pessoa que gosta de enxergar todos os detalhes do que vê. Não me basta a visão superficial das pessoas, das histórias ou dos sentimentos. Quero sempre um pouquinho mais. Quero todas as nuances das pessoas, todos os detalhes das histórias e toda a profundidade dos sentimentos. E não consigo ter menos que isso sem achar que falta um pedaço.  E não consigo não tentar enxergar sempre tudo o que se esconde em cada cantinho.
Descubro coisas lindas observando atentamente o que a vida me exibe, como o lado mais doce de alguém que não se mostra facilmente; como a mensagem oculta de uma história aparentemente sem importância; como a possibilidade de um sentimento novo.
Antes que digam, me defendo: não faço o “jogo do contente”, como Pollyana. Nem sempre a conclusão das minhas observações me agrada, mas sempre me mostra algo além do que parecia. Assim, consigo entender e aceitar o que não saiu como eu imaginava ou desejava e sinto-me liberada para continuar meu caminho, sem rastros que me sigam ou mesmo me persigam pelas minhas vidas afora.
Ser assim pode ser uma qualidade, mas o fato é que me esgota. Ao fim de cada processo, seja esse de alegria ou de tristeza, preciso fechar os olhos, esvaziar meu coração e meus pensamentos.
Maior ou menor, um dia o intervalo chega ao fim. Um novo acontecimento avisa que é hora de voltar. E a vida dessa forma se mostra perfeita.
Nas últimas semanas, experimentei sentimentos extremos, mistos de medo, de surpresa, de descobertas. E me enxerguei no fundo de certos olhos, que não eram os meus. E desta vez foi lá que vi minha alma dançando, feliz.
Gratidão a tudo e a todos que me protegem.
Gratidão à vida, que não cansa de me encantar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

As Flores da Minha Vida


Viajei, trouxe comigo um galho de uma planta que dá um buquê de flores brancas lindas. Veio embrulhado com carinho para não machucar na viagem. Lá onde o galho foi colhido, dizem que essa flor branca é como praga, que basta deixar na água pra criar raiz, depois plantar. Olho meu galhinho todos os dias e sonho com a flor.

Nesse lugar onde estive os buquês brancos de flor espalham-se pela cidade, enfeitam as entradas das casas, as ruas, a igreja.

Parece tolice dizer que gosto de flores, mas é preciso sim. Tem gente que vive uma vida inteira sem notar a presença delas. Costumo dizer que tem uma espécie de gente que vive a vida sem poesia. São pessoas que moram em casas sem cores, pessoas práticas, duras. Comem sem sentir o gosto, não abraçam, não choram nos filmes.

Aprendi muitas coisas boas com a minha família, entre elas, a observar detalhes e me perder na beleza das flores. Cresci rodeada delas.

A vida toda vi meu pai chegar da rua com flores para minha mãe. Flores de todo o tipo, qualquer uma que estivesse à mão para declarar sua paixão por ela. E ela recebia o mimo com um sorriso tímido, sem muitos agradecimentos, mas ficava feliz, claro. Era o jeito deles, um código só dos dois.

Até gestos lindos como esses viram rotina e paramos de observar que continuam acontecendo dia após dia. E chega uma hora que a vida nos joga lá pra frente na estrada e ficamos lembrando, lamentando tantos detalhes perdidos. A rotina esconde pequenos momentos que carregam toda a ternura do mundo.

Sempre tivemos flores em casa. Quando não estavam lá pairava uma secura no ar, e logo alguém tratava de consertar o desequilíbrio.


Minha avó Marianina gostava de margaridas e elas forravam seu jardim. Eram sua marca no mundo. Cláudia, minha irmã, herdou dela o jeito com as plantas e ainda hoje passa horas mudando os vasos de um lado para outro, ajeitando tudo em busca do melhor ângulo.

Das flores da minha vida, lembro em especial das que ganhei na minha adolescência. Foram muitas. Havíamos descoberto como era bom enviar flores uns para os outros e nos meus aniversários a sala de casa exibia flores de todo tipo, enviadas por meus amigos, o namorado e pretendentes também, claro.

Naqueles dias, quando alguma angústia ficava insuportável, eu saia para caminhar sozinha. E andava muito e muito, chegava do outro lado do bairro e voltava invariavelmente carregada de flores para casa. Fiz isso muitas vezes e era como se deixasse pelas ruas todas as mágoas e fizesse das flores um recomeço. E me esquecia de tudo ajeitando o vaso, flor a flor, procurando também como minha irmã o lado mais bonito do arranjo para que fosse visto.

Durante toda a minha vida as flores estiveram por perto. As flores do jardim de minha avó, as flores na sala de casa, nas festas que organizei, nas mesas dos jantares que ofereci. Nos momentos alegres e para espantar a tristeza, sempre estiveram presentes.

Flores, gosto de todas e de algumas em especial: as rosas brancas de meu pai, as margaridas de minha avó, os lisianthus que descobri sozinha e aprendi a amar.

As lembranças das minhas flores trazem as cores, os cheiros, as imagens de toda uma vida.

Estão nascendo algumas folhinhas no galho que trouxe da viagem. Será que verei os buques de flores brancas?

Tomara que sim! Vou lá conferir.



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um ano sem você!

Para meu pai, Luiz Marasco

Um ano lembrando suas histórias e seguindo em frente,
porque é assim que deve ser.
Para sempre, uma saudade boa irá nos acompanhar.


... e como Nelson Gonçalves também foi seu repertório, 
essa é a escolhida pra hoje:

NAQUELA MESA
Naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor

naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã.

eu não sabia que doía tanto
uma mesa num canto, uma casa e um jardim
se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída, não doía assim

agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala no seu bandolim
naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim...
naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim...





PS.: Obrigada por cuidar de mim daí de cima.
Agora, finalmente estou bem!


terça-feira, 17 de abril de 2012

Aprendendo a amar

Acordo, abro os olhos e me espreguiço. Um pensamento para quem protegeu meu sono: gratidão. Bom dia para mim e para a vida. Estou pronta!

Olho minha imagem no espelho e perco um tempo assim, olhando. Quem eu sempre vi está diferente hoje. Olho no fundo dos meus olhos, lá onde mora minha alma. A alma está leve.

Um ano buscando, mergulhando em mim mesma, juntando pedaços de histórias minhas. Nem sei o que tanto busquei, que sentido esperava dar às coisas à minha volta. Talvez fosse apenas medo de me descobrir mais tarde vazia, como à margem de um caminho para lugar nenhum.

E por um tempo que durou meses fiquei assim, vazia.

Queria entender. Entender o que mesmo? Sei lá.

Havia algo que eu não sabia, algo que faltou, que não prestei atenção e perdi. E poderia estar em qualquer lugar, em alguma lembrança. Talvez lá na minha infância, naquele quintal cheio de fantasias. Quem sabe na adolescência confusa, vivida intensamente entre crises e amigos tão queridos.

Perdi algumas coisas, algumas pessoas. Deixei outras pelo caminho, porque não mais podiam me acompanhar.

Foi-se embora a pessoa que mais me amou na vida: meu pai. Fiquei órfã desse amor. E sofri, antes de entender que esse amor permaneceria comigo para sempre.

Lembrei de seu olhar me acompanhando com admiração, esse mesmo olhar que ele baixava quando eu era intolerante. Quase pude ouvir ele dizer “oi, querida”, como ele dizia algumas vezes ao telefone. E percebi que, mais do que me amar, ele nunca desistiu de mim.

Pensei no amor dele por minha mãe, declarado, sem pudor de se mostrar frágil diante dela. 

Pensei nela, cúmplice nas artimanhas para acobertar dos filhos as travessuras dos dois. Pensei no olhar dela perdido, também sem entender o que deveria fazer agora sem ele.

E entendi o casamento deles. E me deliciei no privilégio de ter sido assim amada e de ter sido testemunha daquele amor. E ficou claro que o amor esteve à minha volta toda a minha vida.

E assim descobri que meu pai me ensinou a amar e me deixar ser amada. E aprendi que para amar é preciso se despir do medo, dos joguinhos, das meias palavras, das idéias pré-concebidas. É preciso deixar-se flutuar.

E olhei para trás e gostei da história que vi. E olhei no espelho e gostei de ver minha alma dançando no fundo dos meus olhos.

E me vi pronta. E me vi amando e sendo amada.

E, finalmente, renasci.

domingo, 8 de abril de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Ciranda, Cirandinha


Saudade  ... 


Ciranda, Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar.

O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou

Por isso ...
faz favor de entrar na roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá embora








segunda-feira, 19 de março de 2012

Uma Antiga Benção Celta

Pelo aniversário de Rose e Rosângela, amigas que certamente já eram minhas em outras vidas. 
A todos os meus amores.


Que o caminho venha ao teu encontro.
Que o vento sopre sempre às tuas costas e a chuva caia suave sobre o teu campo.
E, até que voltemos a nos encontrar, que Deus te sustente suavemente, na palma de Sua mão.
Que vivas todo o tempo que quiseres, e que sempre vivas plenamente.
Lembra sempre de esquecer as coisas que te entristeceram,
e não te esqueça de lembrar das coisas que te alegraram.
Lembra sempre de esquecer os amigos que se revelaram falsos,
mas nunca deixes de lembrar daqueles que permaneceram fiéis.
Lembra sempre de esquecer os problemas que passaram,
mas não deixes de lembrar das bênçãos de cada dia.
Que o dia mais triste do teu futuro não seja pior que o mais feliz de teu passado.
Que o teto nunca caia sobre ti, e que os amigos debaixo dele nunca partam.
Que sempre tenhas palavras cálidas em um anoitecer frio,
uma lua cheia em uma noite escura,
e que um caminho sempre se abra à sua porta.
Que vivas cem anos, com um ano a mais para arrepender-te.
Que o Senhor te guarde em Suas mãos e não te aperte muito em Seus dedos.
Que teus vizinhos te respeitem, que os problemas te abandonem, 
que os anjos te protejam e o céu te acolha.
E que a sorte das colinas celtas te abrace.
Que as bênçãos de São Patrício te contemplem.
Que teus bolsos estejam pesados e o teu coração leve.
Que a boa sorte te persiga, e a cada dia e a cada noite tenhas um muro contra o vento, um teto para a chuva, bebida junto ao fogo, risadas que consolem aqueles a quem amas, e que teu coração te preencha com tudo o que desejas.
Que Deus esteja contigo e te abençoe.
Que vejas os filhos de teus filhos.
Que o infortúnio te seja breve e que te encha de bênçãos.
Que não conheças nada além da felicidade, deste dia em diante.
Que Deus te conceda muitos anos de vida,
com certeza Ele sabe que a Terra não tem anjos suficientes.
E assim seja a cada ano, e para sempre!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sapo Cururu

Dia de sorrir e cantar!


Sapo cururu, na beira do rio

Quando o sapo canta, ô maninha, é porque tem frio.

A mulher do sapo deve estar está  lá dentro

Fazendo rendinha, ô maninha, para o casamento.





sábado, 11 de fevereiro de 2012

Olhando para o céu

A mocinha do filme olha para o céu cheio de estrelas, suspira e sorri.

Deixo prá lá o filme, levada agora pelos pensamentos que me fazem voltar no tempo. Toma conta de mim a mesma sensação das vezes que olhei para o céu e me perdi entre as estrelas.  Penso no mistério daquela imensidão e sorrio também, como depois de uma descoberta. No entanto, não sei o que atrai nosso olhar para o alto tantas vezes durante nossa vida aqui.

Imagino que lá esteja toda a nossa esperança e isso me acalma. 

Olhando para o céu planejamos o futuro, moldamos nossos sonhos. Sonhos que nascem dentro de nós e que erroneamente procuramos no alto. O que mora no céu é o que alimenta nossos sonhos, não esses.

Nosso olhar rotineiramente se perde no espaço escuro entre as estrelas, nos leva a vagar pelo universo, nos faz sentir pequeninos e parte do todo ao mesmo tempo. 

O que não se pode explicar é verdade por si só, e costuma morar lá em cima.

Olhamos para o céu para sonhar, pedir, agradecer; para admirar a grandeza da Criação, suspirar em reconhecimento. Na alegria e na tristeza, é para lá que nosso olhar se dirige sempre.

Quando pequena, aprendi com minha mãe que no céu está Deus, cercado de anjos e de todos os Seus santos. Olho para o céu com fé, mas também com a sensação de que existe ali algo que ainda não me contaram.

Ainda aprendi que, protegidos por esse mistério, estão também aqueles que já não compartilham conosco este mundo. Lá, então, estarão: meu pai, meus avós, meus tios, amigos queridos. Olho para o céu com saudade e uma pitada de alegria pelo privilégio dos momentos que dividimos.

Nossa vida agora é aqui, pisando este chão, dividindo este espaço com tantas outras pessoas. No entanto, olhamos muito mais vezes para o alto, tentando desvendar mistérios, do que para a Terra onde nossos pés caminham. O que está aqui e podemos tocar interessa menos do que toda essa infinitude de estrelas e de existências.

Que prazer é esse que nos faz esquecer quem somos e nos perder em pensamentos?

Não sei a resposta. Sei apenas que me alimenta a alma a sensação do sem fim, do mistério, das outras possibilidades além do que se vê.

Fé, sonho, ilusão, esperança. Não importa.

Importa apenas olhar e querer enxergar. Sentir e tomar para si. Não ver, mas ter a certeza de ser real.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tororó

Dia de cantar, brincar, lembrar coisas boas ... ser feliz!



Fui no Tororó beber água não achei
Achei linda Morena
Que no Tororó deixei

Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada

Oh ! Dona Maria,
Oh ! Mariazinha, entra nesta roda
Ou ficarás sozinha !

Sozinha eu não fico
Nem hei de ficar !
Por que eu tenho o Joãozinho
Para ser o meu par !



quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

As melhores férias

Quando a gente resolve remexer nas lembranças de uma vida inteira, os assuntos vão pipocando, se mostrando. Como se estivessem todos guardados em uma caixinha e de repente saltassem desesperados numa disputa com todos os outros que dividem espaço na memória.
Janeiro, mês de férias ... então, vamos lá!
Quando eu era criança, as férias escolares eram muito mais longas do que são hoje. E isso era muito bom. 
Cada um no seu tempo, mas nessa questão tive mais sorte que as crianças de hoje em dia.
O fato é que na minha época era muito melhor, e o que me fez feliz não pode me fazer sentir velha, então falo de boca cheia: na MINHA época eram três meses inteirinhos de férias no fim do ano. Parávamos no início de dezembro para só retomar as aulas em março do ano seguinte.
Alguém dirá que minhas férias continuam iguais, mas enfim ...  
Uniforme, pasta, cadernos, livros, tudo rapidamente organizado para descansar longe do campo da visão. E junto iam os horários, os deveres de casa, a matemática que me perseguia, as vozes dos professores, o hino nacional no pátio, o sinal, tudo.
Três meses inteirinhos de liberdade, pés descalços, cara suja de terra. 
Maravilhaaaaa!
Minha mãe tratava logo de ajeitar as coisas e nos despachar para longe. Afinal, ela também merecia férias de nós.
Assim, eram dias de férias para todos os gostos: com meus amigos, com meus avós, com meus primos. E meu irmão quase sempre junto, claro.
De todas as lembranças, as que mais têm me visitado ultimamente são as dos dias na praia com meus padrinhos - Maura e Rui, e meus primos – Lúcia, Junior e Jacques. Sol, brincadeiras, amigos, praia, banhos de mar, tudo de bom que a vida pode oferecer para uma criança em férias.
Lembro-me claramente da casa, da porta pesada de vidro na entrada, dos beliches, da mesa da sala. Lembro do prédio que ficava no caminho da padaria, da amiga da minha prima na casa em frente, dos amigos que ficavam mais no fim da rua no caminho para a rodovia. Fecho os olhos e consigo sentir o sabor das refeições preparadas pela Maura e que iam cuidadosamente para a mesa alimentar nossos corpinhos exaustos das brincadeiras do dia.
A praia ficava perto, mas muitas vezes íamos escoltados. E seguíamos em grupo já nos divertindo pelo caminho. Tio Rui era pernambucano e trazia das raízes costumes bastante peculiares, como nos besuntar de azeite de dendê, que não protegia em nada nossa pele do sol, mas deixava ao fim das férias um dourado único para ser exibido na volta às aulas.
Na verdade, ninguém se protegia do sol naqueles tempos.
Naquela praia me diverti muito, aprendi a boiar, furar as ondas, pegar jacaré, brincar embaixo d’água. Fui feliz.
Ainda assim, sentia saudade de casa, de meus pais, meus irmãos. Nada que uma brincadeira nova não fizesse superar. E o tempo corria enchendo os dias de risos, calor, alegria.
Nossa família sabia como fortalecer os vínculos entre todos nós, conscientes da importância dessa referência e dessa força para o resto da vida.
Das férias da minha infância guardo boas lembranças e a felicidade da convivência com meus primos, laços que nos unem fortemente até hoje e para sempre.
Bons tempos aqueles. Muito bons mesmo.