terça-feira, 17 de abril de 2012

Aprendendo a amar

Acordo, abro os olhos e me espreguiço. Um pensamento para quem protegeu meu sono: gratidão. Bom dia para mim e para a vida. Estou pronta!

Olho minha imagem no espelho e perco um tempo assim, olhando. Quem eu sempre vi está diferente hoje. Olho no fundo dos meus olhos, lá onde mora minha alma. A alma está leve.

Um ano buscando, mergulhando em mim mesma, juntando pedaços de histórias minhas. Nem sei o que tanto busquei, que sentido esperava dar às coisas à minha volta. Talvez fosse apenas medo de me descobrir mais tarde vazia, como à margem de um caminho para lugar nenhum.

E por um tempo que durou meses fiquei assim, vazia.

Queria entender. Entender o que mesmo? Sei lá.

Havia algo que eu não sabia, algo que faltou, que não prestei atenção e perdi. E poderia estar em qualquer lugar, em alguma lembrança. Talvez lá na minha infância, naquele quintal cheio de fantasias. Quem sabe na adolescência confusa, vivida intensamente entre crises e amigos tão queridos.

Perdi algumas coisas, algumas pessoas. Deixei outras pelo caminho, porque não mais podiam me acompanhar.

Foi-se embora a pessoa que mais me amou na vida: meu pai. Fiquei órfã desse amor. E sofri, antes de entender que esse amor permaneceria comigo para sempre.

Lembrei de seu olhar me acompanhando com admiração, esse mesmo olhar que ele baixava quando eu era intolerante. Quase pude ouvir ele dizer “oi, querida”, como ele dizia algumas vezes ao telefone. E percebi que, mais do que me amar, ele nunca desistiu de mim.

Pensei no amor dele por minha mãe, declarado, sem pudor de se mostrar frágil diante dela. 

Pensei nela, cúmplice nas artimanhas para acobertar dos filhos as travessuras dos dois. Pensei no olhar dela perdido, também sem entender o que deveria fazer agora sem ele.

E entendi o casamento deles. E me deliciei no privilégio de ter sido assim amada e de ter sido testemunha daquele amor. E ficou claro que o amor esteve à minha volta toda a minha vida.

E assim descobri que meu pai me ensinou a amar e me deixar ser amada. E aprendi que para amar é preciso se despir do medo, dos joguinhos, das meias palavras, das idéias pré-concebidas. É preciso deixar-se flutuar.

E olhei para trás e gostei da história que vi. E olhei no espelho e gostei de ver minha alma dançando no fundo dos meus olhos.

E me vi pronta. E me vi amando e sendo amada.

E, finalmente, renasci.

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