sábado, 31 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Cor do arco-iris ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação 
com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
Para você ganhar um ano novo
Não apenas pintado de novo, 
remendado às carreiras,
Mas novo nas sementinhas do vir-a-ser
Novo até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior)
Novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota
Mas com ele se come, se passeia,
Se ama, se compreende, se trabalha,
Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita
Não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? Passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
Pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto de esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando pelo
direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo,
Que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,
Tem de fazê-lo novo.
Eu sei que não é fácil,
Mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre.


Muito feliz Ano Novo, em todos os cantinhos desse Universo



domingo, 25 de dezembro de 2011

Natais da minha infância

Não sei dizer quem me acordou do sonho do Papai Noel. Sei que um dia vi minha mãe chegar tentando esconder um presente e sabia que era meu. E fingi que não vi, para que ela pudesse sentir-se feliz com a surpresa. De qualquer forma, já era meu e estaria embaixo de nossa árvore na manhã de Natal. 
O Papai Noel morava lá em casa!

O presente era um carrinho de boneca bem bonitinho, comprado no bazar de Dona Leonor. Aquele bazar abasteceu nossa casa por muito tempo. Eram presentes, brinquedos, tecidos, novelos de lã, artigos de armarinho usados por meu pai. Durante minha infância entrei e sai daquele lugar sempre cheio de novidades, sem saber que na minha adolescência entraria naquela família quase para sempre - história que um dia eu conto.

Os dias de Natal da minha infância eram cheios de encantamento, de alegria, família inteira reunida, mesa farta. Como deve ser sempre o Natal. E como fica registrado na memória das crianças.

Lá em casa, os enfeites saiam das caixas onde dormiam durante o ano e iam para a árvore montada na sala. Não era uma árvore muito grande e os enfeites eram quase sempre os mesmos, mas era imprescindível que ela estivesse ali. Marcava o início dos planos para o fim de ano que se aproximava.

Na casa de vovó Marianina e vovô Sinhô, onde nosso Natal acontecia, as árvores eram sempre diferentes a cada ano. Tenho lembrança de árvores tradicionais, mas me lembro também de galhos prateados sustentando os enfeites coloridos cuidadosamente arranjados pelas mãos de Tia Maria e Tia Magda. De todas, a árvore inesquecível da minha infância foi uma surpresa e uma alegria para toda a criançada: tinha todos os enfeites de chocolate. Figuras natalinas embrulhadas em papéis coloridos. Dá pra não ser a melhor árvore do mundo?

Mais bonito do que qualquer árvore, havia o presépio. Eu amava aquele presépio e ficava muito tempo descobrindo os detalhes novos do ano. Os caminhos desenhados na serragem colorida, o laguinho de espelho, os animais. Minha imaginação viajava naquelas imagens e eu me sentia parte dele. Lembro perfeitamente das ovelhinhas, cada uma delas virada para um lado diferente. Eram lindas.

Presépios até hoje me encantam muito.

Tia Chiquinha comprava presentes para todos e fazia discursos emocionados. As crianças corriam por todos os lados. Os adultos bebiam e comiam, riam alto.

Além de nossa família, os amigos de meu primo Caio também faziam parte da festa. Invadiam a casa e ficavam por lá muito tempo. Vinham também os vizinhos. Os mais íntimos iam ficando, outros davam apenas uma passadinha para os cumprimentos. Era um entra e sai de gente sem fim.

Na minha infância, nossa família estava sempre reunida e a casa de meus avós estava sempre em festa. 

Muita coisa mudou desde aquele tempo, algumas pessoas partiram, outras chegaram. Os dias de Natal não poderiam mais ser iguais, mas continuam sendo reuniões deliciosas.

Neste Natal em especial minha família inteira ficou mais unida, ligada pela dor das perdas que sofremos, mas principalmente pelo amor que sempre existiu entre nós e que mostrou-se mais intenso que nunca.

O Natal termina e deixa um doce sabor de paz. Sinto saudade, mas estou feliz!


sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Recordando bons momentos ... Feliz Natal!!


Noite feliz, noite feliz
Ó Senhor, Deus de amor
Pobrezinho nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus, nosso bem
Dorme em paz, ó Jesus
Dorme em paz, ó Jesus


Noite feliz, noite feliz
Ó Jesus, Deus da luz
Quão afável é teu coração
Que quiseste nascer nosso irmão
E a nós todos salvar
E a nós todos salvar

Noite feliz, noite feliz
Eis que no ar vem cantar
Aos pastores, seus anjos no céu
Anunciando a chegada de Deus
De Jesus salvador
De Jesus salvador


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Peixe Vivo

A delícia de ser criança, para sempre criança ... 

Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria

Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia

Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Por me verem assim chorando
Sem a tua companhia

Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Oito de dezembro

Todos os anos nós comemoramos o dia oito de dezembro lá em casa. Aniversário de casamento de meus pais.
Meu pai sempre se lembrou da data e nunca deixou de entregar à minha mãe uma flor. Não deixava também que nenhum de nós esquecesse disso. Logo cedo já nos telefonava dizendo: está lembrando que dia é hoje?
Meu pai gostava de rosas brancas, simbolizavam para ele o anjo da guarda. E quando estávamos tristes ou preocupados com alguma coisa nos dizia para conversar com a rosa e pedir a ela proteção.
Este ano passou rápido e logo nos trouxe dezembro e todas as suas lembranças. Conforme a data foi se aproximando, foi crescendo em mim uma grande angústia. Chorei, senti medo. Medo da dor e da minha impotência diante dela.
Queria abraçar toda a minha família, protegê-la. Queria que minha mãe ficasse bem e não sofresse nunca mais.
Dezembro, mês também do meu aniversário e do Natal.
Olho para trás e vejo laços que se partiram, ausências. Sinto saudade. Fico triste. Ainda assim, não gosto que digam que foi um ano difícil para mim. Foi apenas mais um ano, respondo.
Dezembro chegou, inexoravelmente.
E quando tudo parecia caminhar em direção à melancolia de um dezembro lento, uma centelha divina manifestou-se entre nós, mostrou-se viva, presente.
E nosso universo transformou-se em luz!
Tudo ganhou outro significado e veio rápido a compreensão das missões que se encerram e das que iniciam. A benção de uma nova existência, trazendo de volta o riso frouxo da alegria, as lágrimas de felicidade, a emoção de assistir a vida se renovando.
Ano que vem, teremos novidade. Chegará em julho, trazendo acalanto aos nossos corações.
Uma nova geração está sendo inaugurada em nossa família. Parabéns, Joana e Ingo!
Estamos felizes de novo, finalmente.





sábado, 3 de dezembro de 2011

Tio Rui

Uma homenagem ao meu padrinho, Tio Rui, que nos deixou há pouco tempo e que também ajudou a construir a minha história. 
Texto escolhido por meus primos, dentre os muitos escritos por ele.