Não sei dizer quem me acordou do sonho do Papai Noel. Sei que um dia vi minha mãe chegar tentando esconder um presente e sabia que era meu. E fingi que não vi, para que ela pudesse sentir-se feliz com a surpresa. De qualquer forma, já era meu e estaria embaixo de nossa árvore na manhã de Natal.
O Papai Noel morava lá em casa!
O Papai Noel morava lá em casa!
O presente era um carrinho de boneca bem bonitinho, comprado no bazar de Dona Leonor. Aquele bazar abasteceu nossa casa por muito tempo. Eram presentes, brinquedos, tecidos, novelos de lã, artigos de armarinho usados por meu pai. Durante minha infância entrei e sai daquele lugar sempre cheio de novidades, sem saber que na minha adolescência entraria naquela família quase para sempre - história que um dia eu conto.
Os dias de Natal da minha infância eram cheios de encantamento, de alegria, família inteira reunida, mesa farta. Como deve ser sempre o Natal. E como fica registrado na memória das crianças.
Lá em casa, os enfeites saiam das caixas onde dormiam durante o ano e iam para a árvore montada na sala. Não era uma árvore muito grande e os enfeites eram quase sempre os mesmos, mas era imprescindível que ela estivesse ali. Marcava o início dos planos para o fim de ano que se aproximava.
Na casa de vovó Marianina e vovô Sinhô, onde nosso Natal acontecia, as árvores eram sempre diferentes a cada ano. Tenho lembrança de árvores tradicionais, mas me lembro também de galhos prateados sustentando os enfeites coloridos cuidadosamente arranjados pelas mãos de Tia Maria e Tia Magda. De todas, a árvore inesquecível da minha infância foi uma surpresa e uma alegria para toda a criançada: tinha todos os enfeites de chocolate. Figuras natalinas embrulhadas em papéis coloridos. Dá pra não ser a melhor árvore do mundo?
Mais bonito do que qualquer árvore, havia o presépio. Eu amava aquele presépio e ficava muito tempo descobrindo os detalhes novos do ano. Os caminhos desenhados na serragem colorida, o laguinho de espelho, os animais. Minha imaginação viajava naquelas imagens e eu me sentia parte dele. Lembro perfeitamente das ovelhinhas, cada uma delas virada para um lado diferente. Eram lindas.
Presépios até hoje me encantam muito.
Tia Chiquinha comprava presentes para todos e fazia discursos emocionados. As crianças corriam por todos os lados. Os adultos bebiam e comiam, riam alto.
Além de nossa família, os amigos de meu primo Caio também faziam parte da festa. Invadiam a casa e ficavam por lá muito tempo. Vinham também os vizinhos. Os mais íntimos iam ficando, outros davam apenas uma passadinha para os cumprimentos. Era um entra e sai de gente sem fim.
Na minha infância, nossa família estava sempre reunida e a casa de meus avós estava sempre em festa.
Muita coisa mudou desde aquele tempo, algumas pessoas partiram, outras chegaram. Os dias de Natal não poderiam mais ser iguais, mas continuam sendo reuniões deliciosas.
Neste Natal em especial minha família inteira ficou mais unida, ligada pela dor das perdas que sofremos, mas principalmente pelo amor que sempre existiu entre nós e que mostrou-se mais intenso que nunca.
O Natal termina e deixa um doce sabor de paz. Sinto saudade, mas estou feliz!
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