Nossa casa era a primeira da rua onde nossa vida acontecia. Era uma casa pequena, simples, que havia sido moradia de um dos irmãos italianos, donos da loja de ferragens e das outras casas que nos rodeavam.
Fazia parte de nossa casa uma porta de comércio, com entrada independente da nossa. Ali, quando me lembro ainda bem pequena, estava instalada a farmácia do Alfredo, primo de minha mãe. Alfredo era filho do Tio Jonas, irmão de meu avô Sinhô e que morava no bairro vizinho.
Naquele tempo, era para a farmácia que todos corriam quando precisavam de receita para uma dor, um mal estar ou para um curativo nos joelhos da criançada. Médico mesmo só para os casos muito graves.
Era assim nossa relação com o primo Alfredo: nosso socorrista, para qualquer hora. Com ele nos sentíamos tranquilos e seguros de que estaríamos sempre bem.
Foi ele quem ajudou minha mãe a curar nossas gripes, diminuir as febres, dores de ouvido, sarampos, cataporas e tantas outras enfermidades que vez ou outra batiam à nossa porta. Curou a caxumba de minhas irmãs e me botou de molho por um tempo para cuidar de um princípio de nefrite diagnosticado por ele, e que me rendeu muitos presentes e bombons trazidos pela Tia Magda.
Quando meu avô vinha nos visitar, entrava um pouco em nossa casa, cumprimentava a todos nós, trocava algumas palavras e lá ia ele para a farmácia do Alfredo. Atualizava-se dos últimos acontecimentos da família do irmão e aproveitava para renovar seu estoque de medicamentos. Sempre havia uma novidade nas prateleiras, alívio para algum mal que certamente um de nós teria um dia. Melhor prevenir, claro.
A farmácia permaneceu por lá até que pegou fogo numa noite, depois que um ônibus perdeu o freio e entrou nela porta adentro. Mudou-se, então, para outro espaço, na mesma rua, a uns poucos metros de distância.
Quando a gente é pequeno tudo que nos cerca ajuda a compor o que seremos lá na frente. Foi assim também que aquele lugar cheio de frascos, caixinhas, nomes e cheiros nos trouxe carinho e conforto, e muitas vezes nos ajudou a seguir em frente.
Quando eu já entrava na vida adulta, nos mudamos para outro bairro. E lá ficou a farmácia com parte de nossa história, pronta para outros acontecimentos.
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