sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Flor do Maracujá

De Catulo da Paixão Cearense, em homenagem ao meu pai, que a declamava com muita emoção.
Achávamos um drama sem tamanho e nos divertíamos com isso. Ele também. 


Encontrando-me com um sertanejo 
Perto de um pé de maracujá
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo
Porque razão nasce roxa 
A flor do maracujá?



Ah, pois então eu lhi conto  
A estória que ouvi contá
A razão pro que nasci roxa 
A flor do maracujá
Maracujá já foi branco 
Eu posso inté lhe ajurá
Mais branco qui claridadi 
Mais branco do que o luá
Quando a flor brotava nele  
Lá pros cunfim do sertão
Maracujá parecia 
Um ninho de argodão
Mais um dia, há muito tempo 
Num meis que inté num mi alembro 
Si foi maio, si foi junho 
Si foi janero ou dezembro 
Nosso sinhô Jesus Cristo 
Foi condenado a morrer
Numa cruis crucificado 
Longe daqui como o quê 
Pregaro cristo a martelo  
E ao vê tamanha crueza  
A natureza inteirinha 
Pois-se a chorá di tristeza 
Chorava us campu 
As foia, as ribera 
Sabiá também chorava 
Nos gaio da laranjera 
E havia junto da cruis  
Um pé de maracujá
Carregadinho de flor 
Aos pé de nosso sinhô
I o sangue de Jesus Cristo 
Sangui pisado de dô
Nus pé du maracujá 
Tingia todas as flor
Eis aqui seu moço
A estoria que eu vi contá
A razão proque nasce roxa 
A flor do maracujá.


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