“O Filipe do café consiste na formação de um grão de café colado no outro, podem ser dois, três ou mais. Quando encontrado nas lavouras de café, vale uma prenda, um presente simples, mas de significado para quem o achou. Varia desde uma roupa, um livro e até mesmo um beijo. Geralmente esse achado fica escondido dos olhares e saberes da família. Só assim, tem a magia de ser passado para outra pessoa sem que ela espere e sem que os outros se atentem ao acontecimento. Quem tem um Filipe o esconde por vários dias até que encontre a maneira ideal de passá-lo”.
Pois foi um grão de Filipe que meu pai enviou para a moça mais “séria e recatada” da pequena Taiaçú, à espera de um sinal.
Essa história foi contada inúmeras vezes lá em casa, sempre com um fato novo que enriquecia a narrativa. Nunca tivemos certeza da cronologia correta dos acontecimentos, mas adorávamos ouvir. Ficávamos provocando para que ele contasse mais detalhes, enquanto minha mãe só olhava, às vezes rindo, às vezes soltando o famoso “ahh, Luiz!”.
A verdade é que, quando essa história começou, meu pai andava desiludido com sua vida sentimental, por conta de uma ex-namorada “um tanto alegre demais” para os padrões da época e da cidade. Esse namoro havia aborrecido meu avô e, quando chegou ao fim, era assunto no qual não se tocava mais. Passado um tempo, meu pai resolveu que não queria mais saber de nenhuma moça da região, posto que não pareciam ser merecedoras de sua confiança.
A história contada por ele atingia o ápice quando ele chegava no anúncio de sua decisão: agora, para namorar de novo só se for a Mercedes – moça séria, religiosa!
Minha mãe era a mais tímida das quatro filhas de Seu Sinhô e Dona Marianina. Sua vida resumia-se aos afazeres da casa, a igreja, encontros com algumas amigas, e estava feliz assim. Filha de Maria, nunca tivera um namorado, embora muitos pretendentes. Na verdade, era mesmo muito séria, mas era também muito bonita e isso contava para a decisão de meu pai, claro.
O interesse de meu pai chegou rápido aos ouvidos da mocinha séria, levado pelo incentivo das minhas tias. Era preciso preparar o terreno, porque pouco se sabia do que ia no coração daquela jovem.
Certo dia, entendendo que era preciso agir, meu pai enviou para minha mãe um grão de Filipe. A sorte estava lançada!
Nessa parte da história, não sabemos quanto tempo se passou até que ele recebesse o sinal esperado. Certamente o tempo mínimo para que minha mãe bordasse um lenço com as iniciais LM e presenteasse seu escolhido.
O casamento de meus pais durou 61 anos e ele foi declaradamente apaixonado por ela até seus últimos dias.
Ai que lindo, fiquei emocionada, meus olhos ficaram molhados aqui no escritório, rs. Lindo lindo, principalmnete quando você diz: " ...e ele foi declaradamente apaixonado por ela até seus últimos dias."
ResponderExcluirSimplimente lindo!
Muito interessante lindo mesmo.
ExcluirNasci na roça ouvi falar muito sobre Felipe.
Fê,
ResponderExcluirEsse foi o mais dificil de escrever, mas aconteceu de fato assim e merecia registro.
Um beijo pra vc!!
Que triste! não sabia que Sr Luiz tinha partido. Fique bem na medida do possível e sinta-se fortemente abraçada.
ResponderExcluirLinda e merecida homenagem!!!
Cidinha, meu pai se foi há menos de um mês. Deixou saudades, mas tb deixou histórias muito boas de contar. Escrever aqui é uma homenagem a ele, sim, à minha família e a todos que fizeram minha história ser como é.
ResponderExcluirUm beijo!
Fico feliz em ouvir essas histórias pois muitos não conhece o ciguinificado da palavra paga meu Felipe e muito esclarecedor
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